Por que uma queda nas exportações para os EUA pode não deixar a carne mais barata no Brasil?

  • 02/08/2025
(Foto: Reprodução)
Tarifaço pode encarecer ou baratear o preço dos alimentos no Brasil? A carne está entre os alimentos alvos da tarifa de 50% sobre as compras de produtos brasileiros pelos Estados Unidos. ➡️ Se a exportação para os EUA diminuir por causa disso, quer dizer que vai sobrar carne no Brasil e os preços vão baixar, seguindo a lei da oferta e procura? Não, dizem analistas. Pode até acontecer uma redução por pouco tempo, mas a tendência de alta no preço da carne deverá predominar. É que a oferta do produto no Brasil deve cair nos próximos meses, pelos seguintes motivos: Segundo economistas entrevistados pelo g1, independente do tarifaço, já estava previsto que a indústria fosse abater menos bois neste 2º semestre, para priorizar a reprodução de fêmeas. Com a sobretaxa nas vendas para os EUA (segundo maior mercado da carne brasileira no exterior), esse movimento será reforçado, e mais animais serão segurados no pasto. Enquanto a oferta será menor, a procura dos brasileiros pela carne permanecerá a mesma. Assim, os preços devem seguir uma tendência de alta. Num médio prazo, os exportadores também poderão conquistar novos mercados para o gado que ficou no pasto, substituindo os EUA por compradores de outros países. Entenda mais sobre o preço da carne a seguir: Como estão os preços agora? Por que a oferta não vai crescer? Qual é o peso dos EUA nas vendas do Brasil? Vai ter menos carne no mundo Como estão os preços agora? Os preços da carne bovina no Brasil caíram 0,35% em junho, na comparação com maio, segundo o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), considerado a inflação oficial do país. Mas, na comparação com 12 meses atrás, as carnes ficaram 23,63% mais caras. O início do tarifaço poderá até fazer o preço cair nos supermercados, para que o mercado brasileiro absorva os bois que foram abatidos visando vendas para os EUA. Mas esse cenário não deve durar muito tempo, aponta Wagner Yanaguizawa, especialista em proteína animal do banco Rabobank. O que são tarifas de importação? Quem paga? Por que a oferta de carne não vai crescer? O motivo é que, com ou sem tarifaço, o número de abates já iria diminuir nos próximos meses, reduzindo a oferta de carne e, portanto, fazendo os preços subirem. Essa alta já era esperada: os pecuaristas se planejavam para segurar mais fêmeas para reprodução. Isso acontece por causa do ciclo pecuário, que funciona assim: alta do ciclo: quando há uma expectativa de subida nos preços do bezerro, os pecuaristas, em vez de abaterem as vacas, as mantêm nas fazendas para reprodução, movimento que provoca um aumento nas cotações dos bovinos (boi gordo, bezerro, novilhas, boi magro, vaca gorda, etc); baixa do ciclo: quando as projeções do preço do bezerro começam a cair, um volume maior de fêmeas é encaminhado para os abates. Isso amplia a quantidade de carne no mercado, gerando uma queda nas cotações dos bovinos. O auge no abate foi em 2024 (veja no gráfico abaixo). O tarifaço só deverá reforçar esse movimento de queda nos abates. Os frigoríficos brasileiros já pararam de produzir carne bovina destinada aos EUA, afirmou o presidente da associação dos exportadores (Abiec), Roberto Perosa, na última quarta-feira (30). Produtores também estão mandando menos animais ao confinamento para a engorda, fase final da criação antes do abate, diz Cesar de Castro Alves, gerente de Consultoria Agro do Itaú BBA. Com menos bois sendo engordados e abatidos, a oferta interna também cai. Ou seja, a carne pode ficar ainda mais cara, segundo os especialistas. "Nós vamos ver o (preço do) boi cair e, lá na frente, ver a carne subir mais ainda", resume Alves. Qual é o peso dos EUA nas vendas do Brasil? Vale lembrar que só 20% da carne bovina produzida no Brasil é exportada: a maior parte é consumida dentro do país. E existe uma diferença de gostos: os EUA importam, principalmente, a parte dianteira do boi, usada em hambúrgueres. Já os brasileiros preferem a traseira do boi, de onde saem cortes como a picanha e a alcatra, explica Alves (saiba mais sobre as partes do boi aqui). Exportadores dizem que não existe um substituto imediato para os EUA. E que, com o tarifaço, o Brasil corre risco de perder US$ 1 bilhão em 2025 nesse setor. Mas, assim como no café, não seria fácil os norte-americanos encontrarem outro fornecedor de carne como o Brasil. Como o tarifaço de Trump impacta nas exportações de carne bovina do Brasil? O país de Trump é um grande produtor, mas não dá conta, sozinho, da enorme demanda interna pelo alimento. Por isso, precisa importar. A Austrália é o principal fornecedor do mercado americano, mas ela se volta mais para os cortes que vão direto para os supermercados, e não para a indústria, como o Brasil. Por outro lado, os EUA não são os maiores compradores da carne brasileira: receberam 12% do que foi exportado neste ano. É um volume que não se compara com o da China, para onde foi quase a metade de toda a carne que o Brasil mandou para o exterior. Raio X: veja dados da exportação de carne bovina brasileira Arte / g1 Para analistas, existe uma boa chance de, num médio prazo, o Brasil conseguir novos compradores para o que eventualmente deixar de ser vendido para os EUA. Yanaguizawa, do Rabobank, acredita que seja possível redirecionar essas vendas para países como o Egito, que tem aumentado sua demanda pela proteína. E o café e os pescados: tarifaço vai influenciar nos preços? Suco de laranja escapa do tarifaço: 'Casados com os americanos, para o bem e para o mal' Vai ter menos carne no mundo A redução no abate de bois não acontece só no Brasil. Segundo Yanaguizawa, a oferta global de carne deve cair 2%. A queda também afeta concorrentes do Brasil, como EUA e Austrália. Em parte, isso acontece por causa de problemas sanitários, como doenças. Apenas nos EUA, a expectativa do Itaú BBA é que aconteça uma redução de 2,3% na produção de carne em 2025 e 4,1% em 2026. Quantidade de bois no território americano ao longo dos anos. Arte/g1 Na Austrália, a produção deve cair 3%, e as exportações, 8%, segundo dados do Departamento de Agricultura da Austrália (Abares). Com a concorrência também produzindo menos, deve ser mais fácil para o Brasil encontrar compradores para o seu produto. Saiba também: Restaurantes dos EUA pedem que carne e café sejam poupados da tarifa de Trump Alckmin cita queda no preço dos alimentos e diz que tarifaço pode favorecer tendência Carne bovina Foto de David Foodphototasty na Unsplash

FONTE: https://g1.globo.com/economia/agronegocios/noticia/2025/08/02/entenda-por-que-uma-queda-nas-exportacoes-para-os-eua-pode-nao-deixar-a-carne-mais-barata-no-brasil.ghtml


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